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Tuesday, July 29, 2008

filosofia (30/07/08)

Senso comum e bom senso

Chamamos de senso comum ao conhecimento adquirido pela tradição, e ao qual acrescentamos o resultado da experiência vivida na coletividade a que pertencemos. Trata-se de um conjunto de idéias que nos permite interpretar a realidade, bem como de um corpo de valores que nos ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir.
O senso comum não é refletido e se encontra misturado de crenças e preconceitos. Com isso não queremos desmerecer a forma de pensar do homem comum, mas apenas enfatizar que o primeiro estádio do conhecimento precisa ser superado em direção a uma abordagem crítica e coerente. Em outras palavras, o senso comum precisa ser transformado em bom senso.
Qualquer pessoa, não sendo vítima de doutrinação e dominação, e se for estimulada na capacidade de compreender e criticar, torna-se capaz de juízos sábios porque vitais, isto é, orientados para sua humanização.
Geralmente os obstáculos à passagem do senso comum ao bom senso resultam da exclusão do indivíduo de decisões importantes na comunidade em que se vive.
Mesmo aqueles que freqüentam escolas submetem-se a perversa divisão em que, para alguns, é reservada a formação humanística e científica, enquanto outros recebem apenas preparação técnica, mantendo-se a dicotomia trabalho intelectual / trabalho manual. Com isso, é garantida a dominação daqueles que são obrigados a se ocupar apenas com o fazer.
No entanto, não são apenas trabalhadores manuais que não tem passar do senso comum para o bom senso. De empresários a cientistas podem estar restritos do senso comum quando se acham presos a preconceitos, a concepções rígidas, quando sucumbem à ação massificante dos meios de comunicação em massa (TV, rádio...)
Outras vezes, renunciamos ao exercício do bom senso quando nos submetemos ao poder dos tecnocratas, seduzidos pelo “saber do especialista”. Basta observar a timidez de decisão dos pais que, ao educar os filhos, delegam poderes a psicólogos, pedagogos. Não pretendo desvalorizar a contribuição da ciência com isso, pelo contrário! Apenas ressaltamos que o homem leigo não precisa permanecer passivo diante do saber do técnico, demitindo-se das ações que ele próprio poderia exercer. Em última análise, convém desmistificar a tendência de cultuar as pessoas “estudadas” em detrimento dos homens “sem letras” ou simplesmente não especialista.
Qualquer homem, se não foi ferido em sua liberdade e dignidade, e se teve ocasião de desenvolver a habilidade crítica, será capaz da autoconsciência, de elaborar criticamente o próprio pensamento e de analisar adequadamente a situação em que se vive.

IDEOLOGIA

A ideologia é apresentada como tendo fundamentalmente as seguintes características:
= constitui um corpo sistemático de representações que nos “ensinam” a pensar e de normas que nos “ensinam” a agir;
= tem como função assegurar determinada relação dos homens entre si e com suas condições de existência, adaptando os indivíduos às tarefas prefixadas pela sociedade;
= para tanto, as diferenças de classe e os conflitos sociais são camuflados, ora com a descrição da “sociedade uma e harmônica”, ora com a justificação das diferenças existentes;
= com isso é assegurada a coesão dos homens e a aceitação sem críticas das tarefas mais penosas e pouco recompensadoras, em nome da “vontade de Deus” ou o “dever moral” ou simplesmente como decorrente da “ordem natural das coisas”.
= em última instância, tem a função de manter a dominação de ma classe sobre a outra.
Portanto, a ideologia se caracteriza pela naturalização, na medida em que são consideradas naturais as situações que na verdade são produtos de uma ação humana e que portanto são históricos e não naturais: por exemplo, dizer que a divisão da sociedade em ricos e pobres faz parte da natureza; ou que é natural que uns mandem e outros obedeçam.
A afirmação “a educação é um direito de todos” é verdadeira e até um dever, já que há obrigatoriedade legal de se completar o curso primário. Mas essa afirmação se torna abstrata e lacunar ao apresentar como universal um valor que apenas beneficia uma classe.
Isso é confirmado pelas estatísticas que mostram a evasão escolar por partes das classes desfavorecidas. Mesmo que sejam dadas “explicações”, em função das dificuldades de adaptação, do mercado de trabalho e até do desinteresse ou preguiça dos alunos, o que se oculta é que na sociedade de classes há uma contradição entre os que produzem a riqueza material com seu trabalho e os que usufruem essas riquezas, excluindo delas os produtores. Assim, a educação é um dos bens a serem usufruídos pelos componentes da classe dominante.
Com isso não desconsideramos as diferenças que de fato existem ente os indivíduos, mas, grosso modo, na ideologia a atividade a que cada um se submete aparece como decorrente da competência e não como resultado da divisão de classes.
Assim, se o filho de um operário não melhora o padrão de vida, isso é explicado como resultado de sua incompetência, falta de força de vontade ou disciplina de trabalho, quando na realidade ele joga um “jogo de cartas marcadas”, e suas chances de melhorar não dependem dele, mas da classe que detém os meios de produção.

A ESCOLA

Segundo Althusser, o Estado tem um aparelho repressivo (exército, polícia, prisões, etc.) que assegura a dominação pela violência que assegura a dominação pela violência, mas também se utiliza de outras instituições pertencentes a sociedade civil (a família, a escola, a igreja, os meios de comunicação, etc.) a fim de estabelecer o consenso pela ideologia. E que porisso são chamados de aparelhos ideológicos do estado.
O próprio funcionamento da escola repete a estrutura hierarquizada reproduzindo muitas vezes as relações autoritárias existentes fora dela. E, mais ainda, acentuando a dicotomia entre a teoria e a práxis, a escola não só desvaloriza o trabalho manual privilegiando o trabalho intelectual como também torna a própria teoria estéril, já que distanciada da prática freqüentemente simples erudição inútil.
Portanto, para esses teóricos a escola não democratiza, mas, ao contrário, reproduz a divisão social e mantém os privilégios de classe.

(ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando – Introdução a Filosofia, ed. Moderna, 1993.)

Wednesday, July 16, 2008

longa jornada.. (pt. 2)



6 hs.

Antigamente, eu costumava sair do Rio de Janeiro (RJ) por volta das 22 horas. É um pouco de temor de ser assaltado, coisas assim. Mas, desencanei dessas coisa, e realmente é melhor pegar o ônibus meia noite, pois ás 6 horas chego em São Paulo (SP). Com o dia já claro, mesmo no inverno. Como estava frio!! Coloquei dois casacos desta vez. Lembranças de viagens anteriores me assolam. Sempre me vem a mente a ansiedade de saber o que vem desta vez.
Chegar em São Paulo (SP) sempre me aparenta como sair de um mundo e entrar em outro, não apenas uma viagem. São mundos diferentes; o Rio de Janeiro (RJ), a estrada, São Paulo (SP) não me assustaria se descobrisse que estou, digamos, 500 anos no futuro, ou coisa assim. Mas, não me prenderei aqui, pois este texto é sobre viagens, não sobre lugares. E caminhei o percurso de sempre: saída, escadas rolantes, ver preço e horários da passagem de volta, banheiro, metrô.
Fila monstruosa................... comprei o bilhete na rua, como uma amiga me ensinou. Só que saiu mais caro... tudo estava saindo mais caro desta vez. Aliás, esta vez foi cara demais.

= = = = = = =

7 hs.

A estação de metrô de Santana é estranha. Aquela escada rolante sempre nos parece levar de volta pra rua. A propaganda seriada nela é estranhamente desenhada. Será que foi um parente da empresa quem a desenhou? Muito tosco pra ser artístico.
Nem me lembrava mais dos nomes das ruas. Mas acertei o caminho por instinto. Doze graus!! Estava realmente frio. Chego à casa que me hospedaria e havia lindas pitangas na trepadeira que forrava o muro. Os cachorros continuam enormes. É uma casa belíssima, com certeza. Adoro a vista que se tem do sambódromo paulista da janela.

11 hs.

Deveria dar mais valor a quem realmente se importa comigo, não seguir minhas paixões. Devia ter ficado o sábado inteiro conversando com meus anfitriões, e deixar a saída para o domingo. Mas, claro, não consigo ser caseiro. Tinha de ir ao evento, e era num local complicado. Voltando ao metrô Santana, era pegar apenas uma rua e outra; mas andar nelas por pelo menos uns 15 quarteirões. Adoro caminhar, hehe.
Mas, apesar de belas paisagens de prédios distantes, um coisa irritante em São Paulo (SP), para mim, são aquelas malditas “ladeirinhas”, tão íngremes. Moro numa ladeira, e tem duas no bairro aonde moro; mas, nossa, como tem dessas ladeirinhas aqui.
Ando me confundindo com os sinais. Os paulistas adoram reclamar que o Rio de Janeiro (RJ) tem poucas placas; mas, aqui não encontro sinais de pedestres. Não posso confiar nos carros parados, assim. no Rio de Janeiro (RJ), os motoristas ficam ansiosos para avançar. E se aqui acontece o mesmo?

Tuesday, July 15, 2008

Longa Jornada Noite Adentro - 7/08



LONGA JORNADA NOITE ADENTRO

Sexta feira, 11/07/08

Caramba, a Rodoviária Novo Rio, no Rio de Janeiro (RJ) está lotada... nada mais que o início das férias escolares. Legal. Vou pegar o ônibus para São Paulo (SP) de meia – noite. Ótimo, só tem poucos lugares. Imaginei, devido a quantidade de gente ali. A passagem aumentou, também, ótimo. Tudo promete. Uma criança chorava desesperadamente; era tão ruidosa que toda a rodoviária olhava para ela. Com a sorte que tenho, ela deve viajar no meu ônibus. Não, ela foi num anterior. Hum, tudo bem. A Lei de Murphy não é onipotente. Não vou sentar na janela, fiquei no corredor mesmo. Espero que seja uma mulher. Não por eu ser tarado, mas mulheres são menos largas.
...claro que quem sentou ao meu lado era um cara. Até que ele se comportou e não foi muito largo. Eu já tenho muitas dificuldades pra dormir em viagens, sem contar minhas paranóias... a última coisa que preciso é de um cara dormindo e me empurrando. Mas, claro, eu tenho de ser mais positivo. Legal, todas as pessoas ao meu redor resolveram se esconder do mundo e trancavam suas cortinas, impedindo a visão da estrada. Ver a estrada pra mim, não é apenas uma paisagem; é um modo de eu ao menos imaginar aonde estou, e ter a verdadeira “viagem noite adentro”, perceber o mundo como movimento. Fora o fato de ficar isolado ali, no escuro, só aumentaria minha paranóia. O único ponto positivo era que havia um relógio no ônibus, o que acabaria com a paranóia. Saber o tempo de viagem me permitiria ter uma idéia de onde estou, de quanto tempo ainda passaria ali. A nóia é quando perco toda a sensação de onde estou, quanto tempo passarei naquela situação. O relógio estava atrasado 15 horas (era meia noite e ele marcava 7 horas), mas não era nada que uma simples conta matemática não resolveria.

Sábado, 12/07/08

3 hs.

Itatiaia (RJ); pausa em frente a tradicional – e caríssima – casa colonial. Um dia juro que conhecerei Itatiaia. Deve ser bonita a cidade. Ainda assim, é muito bom esticar um pouco as pernas. Na noite, tudo que se pode ver são as árvores, e os carros velozes na estrada. O estacionamento está lotado! Realmente todo mundo estava indo para São Paulo (SP) naquele momento. Era um dia ruim, mesmo, para viajar... mas, sempre posso aproveitar o momento de pausa; a estrada, a casa, os ônibus variados, enfileirados, as pessoas aproveitando para fumar. Eu gosto quando as pausas são frias, e ali estava com um clima realmente frio.
Esqueci de abrir minha garrafa de água com gás quando saí do Rio de Janeiro (RJ). Com os solavancos, lógico, sou parcialmente banhado por água pura ao abrir para um primeiro gole.

5 hs.

A droga da mulher que sentou atrás de mim ainda não achou a porcaria do seu sapato? Que saco. Como alguém perde um tamanco tão enorme assim? Pra onde ela chutou aquele troço enorme? Era um sapato de salto! Me acordou, me pediu pra procurar, foi até a frente do ônibus ver aonde pudesse estar. Droga, espere chegar na cidade, ele não vai fugir.