Longa Jornada Noite Adentro (2007)
Capítulo um - paranóia
... e de repente eu acordo. É muito estranho perceber que a canção das estradas já é executada faz um longo tempo. esse momento me deixa muito assustado, não me perguntem por que.
Estava voltando de São Paulo (SP), e uma noite em claro havia me deixado exausto. Como já conheço meus hábitos durante viagens - em que durmo pouco - sabia que a chance de adormecer profundamente seria grande. E foi o que ocorreu. Mal o ônibus saiu da rodoviária, e desmaiei, literalmente.
... mas isso gerou seu mais apavorante efeito colateral. Eu sofro de paranóia quando acordo repentinamente. Humm, creio que em alguma edição anterior deste zine eu já citei isso... bom, voltando ao tema principal, acordei de repente, o ônibus singrando por uma estrada reta.
Momento de pânico. "onde estou ?? pra onde estou indo..? há quantos dias estou viajando..? quantas horas vou viajar ainda??? Será que vou ficar aqui para sempre??? Será que tudo é um sonho...?" falando assim, parece tolice, mas naqueles momentos o terror era tanto que sentia falta de ar.
Não conseguia olhar nenhuma paisagem reconhecível, só as árvores e luzes de outros carros. Como se o disco tocasse uma nota em uníssono, impossibilitando -me de reconhecer a música. Mochila, cadeira, roupa, nada sequer me provava se eu era eu mesmo. Tenso, fui ao banheiro. Luz acesa, barulho do motor. Sem provas ainda. Empunho o celular. Reparo: no dia anterior, o papel de parede do monitor mostrava que o servidor era de São Paulo (SP), e agora mostrava a aparência que sempre o conheci: servidor do Rio de Janeiro (RJ). Horas: 2:34. Tinha minha prova.
Respiro aliviado. Onde estou ? na rodovia Presidente Dutra. Pra onde estou indo ? Rio de Janeiro (RJ), voltando de uma bela estadia em São Paulo (SP). Há quanto tempo estou viajando? Saí do terminal Tietê 11 horas. Então, 3 horas e meia.. poderia estar em Jacareí (SP), ou além. Eu só teria mais duas horas e meia de viajem. Não vou ficar pra sempre.....
Uma vez, eu cuidei de um bebê. Uma coisa que reparei, é que os bebês sempre acordam chorando. Creio que isso se deve ao fato de eles ainda não compreenderem muito bem o que ocorre conosco, no ato de dormir. É mais ou menos o que houve comigo. Dormir e acordar me deu uma enorme confusão mental.
Voltei ao meu banco. Desligo o celular, mas logo depois volto a ligá-lo. Ainda estava assustado, talvez precisasse novamente de uma prova. Sim, tem horas que nem eu mesmo me entendo.
Capítulo dois - travesseiro
Estávamos no metrö, indo de uma linha para outra.
Morrendo de cansaço e sono. Vendo a cidade passar, encontro um momento de silêncio e paz, só quebrado pelo ruidoso anúncio da chegada das estações. Deito a cabeça sobre seu ombro, e ela me abraça. Sinto adormecer. Era tão gostoso... apago um segundo, e acordo sobre seu peito. O mais confortável dos travesseiros. Será que ela sentiu o que senti? O absoluto conforto? Quando tudo, tudo mesmo some... todos os problemas, todas as dúvidas, todos os desejos, tudo some por um instante. O conforto que dura a eternidade de um sorriso, já cantava o Le Orme.
Me lembro da vez em que minha mãe me levou para comprar pão doce após a escola. eu havia passado mal, e ela foi me buscar. Pra mim, foi tão perfeito, simplesmente andar pelas ruas de mãos dadas com ela. Ali, naquele ninar perfeito no metrô, me sentia do mesmo jeito.
Chegamos ao fim da linha. Bairro feio, comentei - perdoe-me os moradores - me lembrou o final da linha 2 do metrô carioca, um local explicitamente distante de tudo.
Tudo bem.... o melhor da viajem foi adormecer confortável. Que bom que eu poderia ter a mesma qualidade na volta.
... e de repente eu acordo. É muito estranho perceber que a canção das estradas já é executada faz um longo tempo. esse momento me deixa muito assustado, não me perguntem por que.
Estava voltando de São Paulo (SP), e uma noite em claro havia me deixado exausto. Como já conheço meus hábitos durante viagens - em que durmo pouco - sabia que a chance de adormecer profundamente seria grande. E foi o que ocorreu. Mal o ônibus saiu da rodoviária, e desmaiei, literalmente.
... mas isso gerou seu mais apavorante efeito colateral. Eu sofro de paranóia quando acordo repentinamente. Humm, creio que em alguma edição anterior deste zine eu já citei isso... bom, voltando ao tema principal, acordei de repente, o ônibus singrando por uma estrada reta.
Momento de pânico. "onde estou ?? pra onde estou indo..? há quantos dias estou viajando..? quantas horas vou viajar ainda??? Será que vou ficar aqui para sempre??? Será que tudo é um sonho...?" falando assim, parece tolice, mas naqueles momentos o terror era tanto que sentia falta de ar.
Não conseguia olhar nenhuma paisagem reconhecível, só as árvores e luzes de outros carros. Como se o disco tocasse uma nota em uníssono, impossibilitando -me de reconhecer a música. Mochila, cadeira, roupa, nada sequer me provava se eu era eu mesmo. Tenso, fui ao banheiro. Luz acesa, barulho do motor. Sem provas ainda. Empunho o celular. Reparo: no dia anterior, o papel de parede do monitor mostrava que o servidor era de São Paulo (SP), e agora mostrava a aparência que sempre o conheci: servidor do Rio de Janeiro (RJ). Horas: 2:34. Tinha minha prova.
Respiro aliviado. Onde estou ? na rodovia Presidente Dutra. Pra onde estou indo ? Rio de Janeiro (RJ), voltando de uma bela estadia em São Paulo (SP). Há quanto tempo estou viajando? Saí do terminal Tietê 11 horas. Então, 3 horas e meia.. poderia estar em Jacareí (SP), ou além. Eu só teria mais duas horas e meia de viajem. Não vou ficar pra sempre.....
Uma vez, eu cuidei de um bebê. Uma coisa que reparei, é que os bebês sempre acordam chorando. Creio que isso se deve ao fato de eles ainda não compreenderem muito bem o que ocorre conosco, no ato de dormir. É mais ou menos o que houve comigo. Dormir e acordar me deu uma enorme confusão mental.
Voltei ao meu banco. Desligo o celular, mas logo depois volto a ligá-lo. Ainda estava assustado, talvez precisasse novamente de uma prova. Sim, tem horas que nem eu mesmo me entendo.
Capítulo dois - travesseiro
Estávamos no metrö, indo de uma linha para outra.
Morrendo de cansaço e sono. Vendo a cidade passar, encontro um momento de silêncio e paz, só quebrado pelo ruidoso anúncio da chegada das estações. Deito a cabeça sobre seu ombro, e ela me abraça. Sinto adormecer. Era tão gostoso... apago um segundo, e acordo sobre seu peito. O mais confortável dos travesseiros. Será que ela sentiu o que senti? O absoluto conforto? Quando tudo, tudo mesmo some... todos os problemas, todas as dúvidas, todos os desejos, tudo some por um instante. O conforto que dura a eternidade de um sorriso, já cantava o Le Orme.
Me lembro da vez em que minha mãe me levou para comprar pão doce após a escola. eu havia passado mal, e ela foi me buscar. Pra mim, foi tão perfeito, simplesmente andar pelas ruas de mãos dadas com ela. Ali, naquele ninar perfeito no metrô, me sentia do mesmo jeito.
Chegamos ao fim da linha. Bairro feio, comentei - perdoe-me os moradores - me lembrou o final da linha 2 do metrô carioca, um local explicitamente distante de tudo.
Tudo bem.... o melhor da viajem foi adormecer confortável. Que bom que eu poderia ter a mesma qualidade na volta.