deusas mesopotâmicas (24/08/07)
Namu é a primeira das Grandes Deusas-Mães e Criadora dos Sumérios. Seu nome é em geral escrito com o símbolo engur, que também é usado para escrever Apsu. Namu, portanto, personifica o poder das águas do mar e das férteis águas subterrâneas (Apsu), portanto sendo a fonte da vida e de toda fertilidade. Listas de deuses e textos descrevem-Na como a "Mãe que deu origem ao Céu e à Terra", "Mãe, a primeira, que deu à luz aos deuses e deusas e ao universe", "Mãe de tudo o que Existe". Ela é uma deusa sem consorte, matéria-prima de tudo o que existe, personificando o sexo feminino como aquele capaz de criar a vida espontaneamente, tal qual expresso num hino ao Seu templo situado em Eridu,"E-engurra, o útero da Abundância".
Samuel Noah Kramer (History begins at Sumer, 1981, the University of Pennsylvannia Press, Philadelphia) faz-nos as seguintes observações a respeito de Namu:
" primeiro havia o mar primordial. Nada se sabe de sua origem ou nascimento, e parece ser provável que os Sumérios achavam que este mar havia existido eternamente" pg. 82
Thorkild Jacobsen (Treasures of Darkness. 1976, Yale University Press, New Haven, London) descreve Namu como a "deificação das margens dos rios" e das "terras férteis dos pantanais do Sul da Mesopotâmia". Todas estas descrições podem ser resumidas da seguinte forma para o Sul de Mesopotâmia: a criação teve origem e foi executada pelo Divino Feminino, pela Deusa Namu, a partir das águas que simbolizavam fertilidade e abundância, sendo a existência da Deusa Namu algo eterno, desde todos os princípios.
Namu é portanto tão antiga quanto o começo da consciência na Mesopotâmia e tão eterna quanto a própria vida, que Nela teve origem. Esta pode ser a razão por quê Ela quase não aparece nos textos que chegaram até nós: como a Mãe e Origem de toda Criação, Sua presença está em tudo o que existe, não precisando, desta forma, ser mencionada. Um(a) grande criador(a) é em geral reconhecido(a) por seus sucessores e obra, sendo de domínio público a sua contribuição.
Em mito e religião, Namu é a mãe de Enki, o deus da Mágica, das Águas Doces, das Artes e da Sabedoria, e de Ereshkigal, a deusa da Mansão dos Mortos. Namu é também a deusa que tem a idéia de criar a humanidade, para que homens e mulheres auxiliem aos deuses nos árduos trabalhos da existência. Pensando assim, é Ela que vai acordar Enki, para que Ele, Ela e Ninhursag-Ki comecem juntos a conceber a série de operações que irá culminar na criação dos homens e mulheres, segundo os sumérios. .
Em termos históricos, Namu pode provavelmente Ter sido adorada em Eridu antes de Enki, que tomou a maior parte de Suas prerrogativas e funções. Apesar de Seu declínio com a ascenção de Enki no panteão dos deuses, durante o período Neo-Sumério, pelo menos em Ur, o culto a Namu era importante, estátuas sendo comissionadas em Sua honra. O nome de Namu faz parte de muitas listas de famílias importantes, como no caso de Urnamu, que é o nome do rei fundador do período da Terceira Dinastia de Ur, uma das mais importantes e progressistas fases da história da Mesopotâmia.
Ereshkigal é a Deusa Suméria, Rainha dos Mortos e do Mundo Subterrâneo. Seu nome significa "Senhora da Grande Habitação Inferior". Entretanto antes de ser relegada ao "kur" (palavra que significa Mundo Inferior), era uma Deusa dos grãos e morava na parte superior da terra. Caracterizava portanto, o crescimento dos cereais. Como Deusa dos grãos, era conhecida como Ninlil, sendo esposa de Enlil, um Deus Sol de segunda ordem. Como mulher deste Deus, foi violentada por marido diversas vezes, oculto em vários disfarces. Mas acabou sendo castigado pela violência perpetrada e mandado para o mundo inferior, onde toma o nome de Gugalana. A Deusa, entretanto, amava muito seu marido e seguiu-o, tornando-se então, Ereshkigal.
Sua violentação é análoga com a história de Perséfone, mas mostra a potência primitiva e paradoxal de forma mais crua, havendo em Ereshkigal muita das Gógonas e da Deméter Negra: o poder, o terror, as sanguessugas sobre a cabeça, o olhar terrível congelando a vida, a ligação íntima com o não-se e o destino. A Deusa contém e personifica as regras do mundo inferior, ao sentar-se frente aos sete juízes para receber aqueles que vêm até ela através dos sete portões de sua casa de lápis-lazúli. Em alguns mitos seu consorte era Ninazu (deus da cura) e em outros, Nergal (deus da peste, da guerra e da morte).
A violentação da Deusa, estabelece ainda, o domínio do masculino sobre a vida em sociedade, relegando o poder feminino e a fertilidade ao mundo inferior.
Em uma das primeiras violentações Ninlil-Ereshkigal por Enlil, nasceu Nana-Sin, o Deus Lua, nascido no mundo inferior antes de levantar-se para iluminar o Céu e medir o tempo com seus ciclos. Nana-Sin é o pai de Inanna, sendo portanto, Ereshkigal sua avó nessa genealogia. Ereshkigal tornou-se um símbolo da morte aterrorizada para o mundo patriarcal e foi banida para o subterrâneo. Como Kali, Ereshkigal, através do tempo e do sofrimento, dos quais, entretanto, jorra avida. Ela simboliza o abismo, que é a fonte e o fim, a base de todos os seres.
Os domínios de Ereshkigal representam uma única certeza: de que todos nós um dia morreremos. Mas devido esta certeza, esse reino é a manifestação do desconhecido, onde a vida consciente se encontra em estado de adormecimento.
O vizir de Ereshkigal chamava-se Namtar, "destino". O reino da Deusa tinha legalidade própria, à qual os Deuses da Suméria se curvavam. É a lei do grande subterrâneo, lei da realidade, das coisas como elas são, uma lei natural pré-ética e freqüentemente aterrorizadora, que sempre precede os julgamentos do superergo patriarcal e daquilo que gostaríamos que acontecesse. Mas Ereshkigal nunca aflorava em seu aspecto terrível. Quando os Deuses realizavam suas festas, pediam que alguém fosse buscar sua comida. Mas ela não é antagônica ao masculino, pois vivia rodeada de juízes, consortes e criados são homens e ela gera e dá à luz a meninos. Portanto, contrariando tudo o que já foi escrito, esta Deusa nos sugere que a consciência das camadas profundas do psique não é uma adversária da consciência patriarcal.
INANNA E ERESHKIGAL
Ereshkigal era irmã-avó de Inanna, que desce até seu território para assistir os funerais Gugalana (marido de Ereshkigal). Mas ela se enfurece e exige que a Deusa do Mundo Superior seja tratada de acordo com as leis e ritos destinados a todos que entram em seu reino: deverá ser trazida até sua presença nua e curvada.
Seu vizir acolhe suas órdens e a cada uma das setes portas de entrada, ele remova uma das vestes de Inanna. Agachada e nua, como os sumérios eram colocados em seus túmulos, ela é julgada por sete juízes. Em seguida, Ereshkigal mata-a e enfia seu corpo em um poste, onde se transforma em uma carne esverdeada pela putrefação. Só depois de três dias é que sua assistente Ninshubur coloca em execução suas instruções para resgatá-la. Mas é somente Enki, o Deus das águas e da sabedoria que se dispõe a ajudá-la. Resgata a Deusa se utilizando para isso dois carpidores que ele modela com a sujeira que se acumulou debaixo de sua unha. Esses entram no Mundo Inferior sem serem notados, levando o alimento e a água da vida que Enki lhes dera. Mas só asseguraram a libertação de Inanna quando compadeceram-se de Ereshkigal, que estava gemendo de dores de parto. Extremamente grata pela empatia dos carpidores, entrega o corpo de Inanna.
Depois Inanna precisará enviar alguém ao Mundo Inferior para ocupar seu lugar. O escolhido será Dumuzi, seu consorte que teria usurpado seu trono. Mas ele será protegido por sua irmã Gehstinana. Inanna decide então que ambos devem dividir a condenação, e passar seis meses cada um no mundo subterrâneo.
Esta história nos serve de modelo cósmico, sazonal, transformativo e psicológico. Este é o filme cuja projeção cura as feridas de todas nós mulheres que crescemos sob o patriarcalismo e lutamos com problemas semelhantes.
Filha de Nanna (Deus Lua) e Ningal (Deusa Lua), tinha seu santuário na cidade de Uruk. Seu nome significa literalmente "Deusa do Céu", e era representada pelo planeta Vênus - a "estrela" matutina ou vespertina. Era uma deusa agrícola, sendo a Ela atribuídos o crescimento das plantas e animais e a fertilidade da humanidade.
No mito "O Descenso de Inanna", a deusa desce por sua própria vontade ao reino dos mortos, onde Ela é morta e renasce. Assim, Inanna emergiu como uma deusa lunar, dona dos mistérios da vida e do renascimento, representados pela lua. Aqui Ela completa seu ciclo, tornando-se não só a deusa da terra e do céu, mas também do mundo subterrâneo.
O problema com o entendimento de Inanna é devido o seu caráter multifacetado, provavelmente resultado da unificação de diferente deidades. Aqui parece bastante apropriado o epíteto Nim-me-sar-ra, "Senhora de uma miríade de ofícios". Inanna era cultuada como a deusa da armazenagem (principalmente dos grãos)e era a esposa do deus da colheita, Amaushumgalanna. Aqui pode-se perceber o caráter metafórico da religião sumeriana. Essa deusa aparentemente foi relacionada com a Inanna, deusa do céu (da chuva), esposa e amante do pastor Dumuzi. É justamente no ciclo de mitos de Inanna e Dumuzi, que a deusa adquire seu caráter mais conhecido.
Inanna como deusa da Chuva e Tempestade, se aproxima muito do seu irmão, Ishkur e de Ninurta. Assim como Ninurta, Inanna controla o pássaro das tempestades com cabeça de leão, Imdugud. Sua carruagem é puxada por sete leões, ela aparece montando um leão ou ela mesma é um leão, sendo aqui representativo do poder da tempestade.
A sua apresentação como deusa da tempestade parece ser resultante de uma tradição que a ligava ao deus dos céus, An, como seu esposo, a ponto de a identificar com Antum - o céu visto como feminino, sendo as nuvens no céu o gerador das chuvas.
Em etapas posteriores, Inanna é representada como a deusa da guerra, resultado de uma tendência a comparar o ato de dirigir a carruagem para a batalha com a tempestade. Assim os sumérios se referiam à guerra como "a dança de Inanna".
Ainda em seu caráter como estrela da noite, Inanna era também associada às prostitutas, como sua protetora. É nesse horário que as prostitutas buscam seu trabalho, é então que surge no céu, como solicitando por amor, a estrela vespertina de grande brilho.
Existem diversas histórias pelas quais são narradas as histórias de Inanna. Talvez as mais famosas sejam a "Árvore Huluppu", "O Descenso de Inanna", os mitos de sua corte com seu amado Dumuzi e finalmente, seus hinos.
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Fontes:
*Inanna, Queen of Heaven and Earth, Diane Wolkstein e Samuel Noah Kramer
**The Sumerians, Samuel Noah Kramer
***The Treasures of Darkness, Thorkild Jacobsen
Para os sumerianos, o universo surgiu quando Nammu, um abismo sem forma, enrolou-se em si mesmo num ato de auto-procriação, gerando An, deus do céu, e Ki, deusa da Terra. A união de An e Ki, produziu Enlil, senhor dos ventos.
Os primeiros registros dos Sumérios remontam mais de 2.300 anos antes de nossa era. Sua origem ainda é desconhecida. Os sumérios possuíam uma cultura superior, plenamente desenvolvida, a qual impunham aos semitas.
A astronomia era extremamente avançada. Foi encontrada na cidade de Nipur, a 150 quilômetros de Bagdá, uma biblioteca contendo cerca de 60.000 placas de barro com inscrições cuneiformes. Suas tábulas contém informações importantes sobre o Sistema Solar, como dados sobre Plutão como tamanho, composições químicas e físicas, que foi redescoberto em 1930 e hoje deixou de ser considerado um planeta. Segundo os sumerianos, Plutão seria um satélite despreendido de Saturno. A Lua era chamada de "pote de chumbo" e seu núcleo, uma cabaça de ferro.
Na tradução de algumas das placas de barro sumérias dizia-se que a Terra teve origem extraterrestre, através da colisão de dois corpos celestes.
Samuel Noah Kramer (History begins at Sumer, 1981, the University of Pennsylvannia Press, Philadelphia) faz-nos as seguintes observações a respeito de Namu:
" primeiro havia o mar primordial. Nada se sabe de sua origem ou nascimento, e parece ser provável que os Sumérios achavam que este mar havia existido eternamente" pg. 82
Thorkild Jacobsen (Treasures of Darkness. 1976, Yale University Press, New Haven, London) descreve Namu como a "deificação das margens dos rios" e das "terras férteis dos pantanais do Sul da Mesopotâmia". Todas estas descrições podem ser resumidas da seguinte forma para o Sul de Mesopotâmia: a criação teve origem e foi executada pelo Divino Feminino, pela Deusa Namu, a partir das águas que simbolizavam fertilidade e abundância, sendo a existência da Deusa Namu algo eterno, desde todos os princípios.
Namu é portanto tão antiga quanto o começo da consciência na Mesopotâmia e tão eterna quanto a própria vida, que Nela teve origem. Esta pode ser a razão por quê Ela quase não aparece nos textos que chegaram até nós: como a Mãe e Origem de toda Criação, Sua presença está em tudo o que existe, não precisando, desta forma, ser mencionada. Um(a) grande criador(a) é em geral reconhecido(a) por seus sucessores e obra, sendo de domínio público a sua contribuição.
Em mito e religião, Namu é a mãe de Enki, o deus da Mágica, das Águas Doces, das Artes e da Sabedoria, e de Ereshkigal, a deusa da Mansão dos Mortos. Namu é também a deusa que tem a idéia de criar a humanidade, para que homens e mulheres auxiliem aos deuses nos árduos trabalhos da existência. Pensando assim, é Ela que vai acordar Enki, para que Ele, Ela e Ninhursag-Ki comecem juntos a conceber a série de operações que irá culminar na criação dos homens e mulheres, segundo os sumérios. .
Em termos históricos, Namu pode provavelmente Ter sido adorada em Eridu antes de Enki, que tomou a maior parte de Suas prerrogativas e funções. Apesar de Seu declínio com a ascenção de Enki no panteão dos deuses, durante o período Neo-Sumério, pelo menos em Ur, o culto a Namu era importante, estátuas sendo comissionadas em Sua honra. O nome de Namu faz parte de muitas listas de famílias importantes, como no caso de Urnamu, que é o nome do rei fundador do período da Terceira Dinastia de Ur, uma das mais importantes e progressistas fases da história da Mesopotâmia.
Ereshkigal é a Deusa Suméria, Rainha dos Mortos e do Mundo Subterrâneo. Seu nome significa "Senhora da Grande Habitação Inferior". Entretanto antes de ser relegada ao "kur" (palavra que significa Mundo Inferior), era uma Deusa dos grãos e morava na parte superior da terra. Caracterizava portanto, o crescimento dos cereais. Como Deusa dos grãos, era conhecida como Ninlil, sendo esposa de Enlil, um Deus Sol de segunda ordem. Como mulher deste Deus, foi violentada por marido diversas vezes, oculto em vários disfarces. Mas acabou sendo castigado pela violência perpetrada e mandado para o mundo inferior, onde toma o nome de Gugalana. A Deusa, entretanto, amava muito seu marido e seguiu-o, tornando-se então, Ereshkigal.
Sua violentação é análoga com a história de Perséfone, mas mostra a potência primitiva e paradoxal de forma mais crua, havendo em Ereshkigal muita das Gógonas e da Deméter Negra: o poder, o terror, as sanguessugas sobre a cabeça, o olhar terrível congelando a vida, a ligação íntima com o não-se e o destino. A Deusa contém e personifica as regras do mundo inferior, ao sentar-se frente aos sete juízes para receber aqueles que vêm até ela através dos sete portões de sua casa de lápis-lazúli. Em alguns mitos seu consorte era Ninazu (deus da cura) e em outros, Nergal (deus da peste, da guerra e da morte).
A violentação da Deusa, estabelece ainda, o domínio do masculino sobre a vida em sociedade, relegando o poder feminino e a fertilidade ao mundo inferior.
Em uma das primeiras violentações Ninlil-Ereshkigal por Enlil, nasceu Nana-Sin, o Deus Lua, nascido no mundo inferior antes de levantar-se para iluminar o Céu e medir o tempo com seus ciclos. Nana-Sin é o pai de Inanna, sendo portanto, Ereshkigal sua avó nessa genealogia. Ereshkigal tornou-se um símbolo da morte aterrorizada para o mundo patriarcal e foi banida para o subterrâneo. Como Kali, Ereshkigal, através do tempo e do sofrimento, dos quais, entretanto, jorra avida. Ela simboliza o abismo, que é a fonte e o fim, a base de todos os seres.
Os domínios de Ereshkigal representam uma única certeza: de que todos nós um dia morreremos. Mas devido esta certeza, esse reino é a manifestação do desconhecido, onde a vida consciente se encontra em estado de adormecimento.
O vizir de Ereshkigal chamava-se Namtar, "destino". O reino da Deusa tinha legalidade própria, à qual os Deuses da Suméria se curvavam. É a lei do grande subterrâneo, lei da realidade, das coisas como elas são, uma lei natural pré-ética e freqüentemente aterrorizadora, que sempre precede os julgamentos do superergo patriarcal e daquilo que gostaríamos que acontecesse. Mas Ereshkigal nunca aflorava em seu aspecto terrível. Quando os Deuses realizavam suas festas, pediam que alguém fosse buscar sua comida. Mas ela não é antagônica ao masculino, pois vivia rodeada de juízes, consortes e criados são homens e ela gera e dá à luz a meninos. Portanto, contrariando tudo o que já foi escrito, esta Deusa nos sugere que a consciência das camadas profundas do psique não é uma adversária da consciência patriarcal.
INANNA E ERESHKIGAL
Ereshkigal era irmã-avó de Inanna, que desce até seu território para assistir os funerais Gugalana (marido de Ereshkigal). Mas ela se enfurece e exige que a Deusa do Mundo Superior seja tratada de acordo com as leis e ritos destinados a todos que entram em seu reino: deverá ser trazida até sua presença nua e curvada.
Seu vizir acolhe suas órdens e a cada uma das setes portas de entrada, ele remova uma das vestes de Inanna. Agachada e nua, como os sumérios eram colocados em seus túmulos, ela é julgada por sete juízes. Em seguida, Ereshkigal mata-a e enfia seu corpo em um poste, onde se transforma em uma carne esverdeada pela putrefação. Só depois de três dias é que sua assistente Ninshubur coloca em execução suas instruções para resgatá-la. Mas é somente Enki, o Deus das águas e da sabedoria que se dispõe a ajudá-la. Resgata a Deusa se utilizando para isso dois carpidores que ele modela com a sujeira que se acumulou debaixo de sua unha. Esses entram no Mundo Inferior sem serem notados, levando o alimento e a água da vida que Enki lhes dera. Mas só asseguraram a libertação de Inanna quando compadeceram-se de Ereshkigal, que estava gemendo de dores de parto. Extremamente grata pela empatia dos carpidores, entrega o corpo de Inanna.
Depois Inanna precisará enviar alguém ao Mundo Inferior para ocupar seu lugar. O escolhido será Dumuzi, seu consorte que teria usurpado seu trono. Mas ele será protegido por sua irmã Gehstinana. Inanna decide então que ambos devem dividir a condenação, e passar seis meses cada um no mundo subterrâneo.
Esta história nos serve de modelo cósmico, sazonal, transformativo e psicológico. Este é o filme cuja projeção cura as feridas de todas nós mulheres que crescemos sob o patriarcalismo e lutamos com problemas semelhantes.
Filha de Nanna (Deus Lua) e Ningal (Deusa Lua), tinha seu santuário na cidade de Uruk. Seu nome significa literalmente "Deusa do Céu", e era representada pelo planeta Vênus - a "estrela" matutina ou vespertina. Era uma deusa agrícola, sendo a Ela atribuídos o crescimento das plantas e animais e a fertilidade da humanidade.
No mito "O Descenso de Inanna", a deusa desce por sua própria vontade ao reino dos mortos, onde Ela é morta e renasce. Assim, Inanna emergiu como uma deusa lunar, dona dos mistérios da vida e do renascimento, representados pela lua. Aqui Ela completa seu ciclo, tornando-se não só a deusa da terra e do céu, mas também do mundo subterrâneo.
O problema com o entendimento de Inanna é devido o seu caráter multifacetado, provavelmente resultado da unificação de diferente deidades. Aqui parece bastante apropriado o epíteto Nim-me-sar-ra, "Senhora de uma miríade de ofícios". Inanna era cultuada como a deusa da armazenagem (principalmente dos grãos)e era a esposa do deus da colheita, Amaushumgalanna. Aqui pode-se perceber o caráter metafórico da religião sumeriana. Essa deusa aparentemente foi relacionada com a Inanna, deusa do céu (da chuva), esposa e amante do pastor Dumuzi. É justamente no ciclo de mitos de Inanna e Dumuzi, que a deusa adquire seu caráter mais conhecido.
Inanna como deusa da Chuva e Tempestade, se aproxima muito do seu irmão, Ishkur e de Ninurta. Assim como Ninurta, Inanna controla o pássaro das tempestades com cabeça de leão, Imdugud. Sua carruagem é puxada por sete leões, ela aparece montando um leão ou ela mesma é um leão, sendo aqui representativo do poder da tempestade.
A sua apresentação como deusa da tempestade parece ser resultante de uma tradição que a ligava ao deus dos céus, An, como seu esposo, a ponto de a identificar com Antum - o céu visto como feminino, sendo as nuvens no céu o gerador das chuvas.
Em etapas posteriores, Inanna é representada como a deusa da guerra, resultado de uma tendência a comparar o ato de dirigir a carruagem para a batalha com a tempestade. Assim os sumérios se referiam à guerra como "a dança de Inanna".
Ainda em seu caráter como estrela da noite, Inanna era também associada às prostitutas, como sua protetora. É nesse horário que as prostitutas buscam seu trabalho, é então que surge no céu, como solicitando por amor, a estrela vespertina de grande brilho.
Existem diversas histórias pelas quais são narradas as histórias de Inanna. Talvez as mais famosas sejam a "Árvore Huluppu", "O Descenso de Inanna", os mitos de sua corte com seu amado Dumuzi e finalmente, seus hinos.
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Fontes:
*Inanna, Queen of Heaven and Earth, Diane Wolkstein e Samuel Noah Kramer
**The Sumerians, Samuel Noah Kramer
***The Treasures of Darkness, Thorkild Jacobsen
Para os sumerianos, o universo surgiu quando Nammu, um abismo sem forma, enrolou-se em si mesmo num ato de auto-procriação, gerando An, deus do céu, e Ki, deusa da Terra. A união de An e Ki, produziu Enlil, senhor dos ventos.
Os primeiros registros dos Sumérios remontam mais de 2.300 anos antes de nossa era. Sua origem ainda é desconhecida. Os sumérios possuíam uma cultura superior, plenamente desenvolvida, a qual impunham aos semitas.
A astronomia era extremamente avançada. Foi encontrada na cidade de Nipur, a 150 quilômetros de Bagdá, uma biblioteca contendo cerca de 60.000 placas de barro com inscrições cuneiformes. Suas tábulas contém informações importantes sobre o Sistema Solar, como dados sobre Plutão como tamanho, composições químicas e físicas, que foi redescoberto em 1930 e hoje deixou de ser considerado um planeta. Segundo os sumerianos, Plutão seria um satélite despreendido de Saturno. A Lua era chamada de "pote de chumbo" e seu núcleo, uma cabaça de ferro.
Na tradução de algumas das placas de barro sumérias dizia-se que a Terra teve origem extraterrestre, através da colisão de dois corpos celestes.